vento seco
como um caco de destino atravessado no corpo.
como um sopro de um sorriso que não voa mais nos meus sonhos.
.por rodrigo, sério, dói!, vou dormir!.
sons, sonhos
Ele adora quando o relógio demora a contar as horas.
Se sente seguro no meio dos segundos e não quer que nenhum vá embora.
Se diz sincero e sustenta que ama apenas o movimento de ida e volta que representa a vida e a glória.
Mas os outros afirmam que ele espera só que nunca vai chegar.
E agora que o relógio parou sem pilhas pra dar corda ao motor?
Que fará com o tempo que o tempo lhe deixou?
Eu ia escrever sobre minha vida, mas tantos outros já o fizeram que é melhor apenas tentar vivê-la.
Eu ia fazer a trilha sonora da minha vida, mas tantos outros já se deram ao trabalho, que é melhor apenas senti-la.
Eu ia voltar no tempo e tomar o crédito pelos meus pedaços espalhados em tantas letras, poemas, penas, livros, discos, filmes; mas isso daria muito trabalho. Catar por ai tantos e tantos rabiscos muito mais eu do que qualquer eu pudesse explicar seria difícil demais para um mero coadjuvante.
Então eu desisti.
Não sabia mais se o eu era eu, ou era sonho, ou apenas seu, ou apenas um risco num papel envelhecido pelo tempo e esquecido do vento numa gaveta de um escritor mediano, que não chegará nunca a ser publicado. Quanto mais degustado debaixo de uma árvore sob o sol de uma tarde de inverno, ou sob a luz de uma lâmpada sobre a cama enquanto se prepara para os mais distantes delírios do sono que voa, voa solto pelo céu cor de baunilha.Não sabia se eu era apenas o coadjuvante que se apaixona pela mocinha e que acaba por matar o protagonista, ela e eu apenas para um melhor final de uma história deus ex-machina.
.por rodrigo.