domingo, outubro 29, 2006

a fênix e os labirintos

ouço um assovio
um assombro cítrico no silêncio da noite
enquanto sigo o passeio cego
desenhado nas pedras próximas

um doce vestígio
dos sonetos sinceros que líamos
surdos
em eclipses diáfanos
de sólidas e longínquas
ciladas ilógicas

em delícias
cálidas e consoantes
cansadas da escuridão das calçadas
na meianoite, meiamadrugada
que se transforma em oceano cinza
carregado de um sufoco
sobre o qual caminho

e tua ausência
no suspiro sereno da madrugada nua
enfeitava meu vício
em estímulo e insônia
na rua suja
em que o pássaro difuso
ousou o avesso
virando a esquina em versos

quarta-feira, outubro 18, 2006

quadro

na ponta do penhasco
aponta marcos
lapsos
espaçados

pintou passos
no céu
com pincéis espelhados
e posou em um pouso
no passado

o tempo inteiro
riscava
pontes sobre ele mesmo

sexta-feira, outubro 13, 2006

cessa

Culpam o afogamento
Sem foco
Pelo pálido pedido
Impelido em palavras balbuciadas
Em silêncios descarrilados

Estampam um tapa
Em uma camiseta
Tapam o estampido ponto
Rompido
O pedaço de carne caído
Do alto do gemido

Aponta vermelha do cigarro
Zonza janela abaixo
Acesa em suspiros e fumaças

segunda-feira, outubro 09, 2006

desafio da manu 2: A droga perfeita

1.

A droga perfeita
Perfila pelo meu sangue
Suor
Sorriso
Tridimensional

Ela
Longínqua
Desfila
Agora
Pra fora
Do abismo

Enquanto
No canto
Palavras escapam
Do meu domínio

Na cama
As sobras de cordas
De nós
Rompidos

terça-feira, outubro 03, 2006

flores

Mas e quando fores?
Quantas flores levarás?

E quanto as cores?
Que acordes sucederão?

Do calor que o lençol
transforma em lince?

Dos calafrios calados
pela liturgia?

Nos atropelos do silêncio
sobre teus pêlos lisérgicos?

Nas lentas linhas
desse labirinto solto
que assola alado
todos os lados
desse longo passatempo?

Quantas flores levarás?