1.

rasgo tua pele consciente
e sangro teu vestido
sugo tua língua
e esqueço teus sentidos de seda
na catarse dos meus dedos

1.

sob seus cachos, já encolhi meus cansaços e sonhei meus sorrisos.
no seu colo, calei minhas lágrimas e cantei meus delírios de menino tolo que trança palavra com brincos.

1.

a insônia cansada da noite
consome os sons ocasionais
criando uma casca de silêncio
dentro dos ruídos da fusão do concreto
com o asfalto

e a intensidade de sussurros
indica que o dia acontece
enquanto compenso os sentidos
através da rotina ritimica e cíclica

assim, a sonolência me desfaz
em finos fios que teimo
em tentar tecer de volta

1.

Gosto do sabor de bukowsky pela manhã
Na boca
Sedenta
Tomo todo,
Como café preparado com o orvalho
Que tocou o concreto,
E correu pelo asfalto

E umedeço nele
O meu dia

E engulo sem mastigar muito
Afinal,
É café preto e amargo
Mas com o toque suave do açúcar mascavo

Numa mistura translúcida
De bêbado com a fé
Que movimenta a colher em círculos concêntricos

E levanto antes do sol
Para que ele já me veja de atento
Quando estiver escalando seu caminho para o topo

1.

Que vontade de vestir meus mitos outra vez
De volta e mais uma insensatez
Como se fosse um vestido
Ou um pálido colar de pérolas
Que não consigas arrancar
Deixar rasgado e rompido
Com rastros espalhados pelo chão

Mas não!
És perfume
Que passo e se espalha pelo redor

Não vejo
Mas sinto a cada novo suspiro
O ar
Que envolve,
Estufa o peito
E tento expulsar
Devolvendo-o junto com o que não quero mais dentro de mim

1.

Queria escrever um soneto
Sobre como teus dedos sonham soltos
Pelas linhas sinuosas que acariciam
Mas mal consigo versos
Que nada têm de livres
Já que estão acorrentados
Aos anéis que vestem tuas malícias

1.

calçadas e tropeços
nas sarjetas

nas ilhas de sapatos
as meias não são inteiras

mas as lentes embaçadas
não aceitam
(nem acertam)
a brincadeira