sábado, maio 07, 2005

Vestígios

Sou feita de sangue e sonhos.
Sou um misto de outras horas que já se contam – de boca em boca – como velhas histórias, somado de novos relógios marcando o próximo (marca-)passo.
Sou uma síncope advinda de uma catarse sucinta (explosiva), sem prosa e sem poesia.
Sou um espinho sem flor, sem pétalas para cuidar. Espinho sem espírito de escudo ou de espada.
Sou um misto, uma mistura química, um cisco no olho molhado.
Sou o olho molhado olhando o espelho sem jeito, meio sem peito de se encarar, mas com medo de fugir.
Sou um rascunho cujos traços feitos a lápis (sem ponta) apagam com o tempo. Um papel empoeirado, um texto sem autor.
Sou a ironia de um tempo que se arrasta lembrando as derrotas, e que corre quando a cama está quente e preenchida.
Sou a mudança de um vento que movimenta folhas por horas e arranca árvores em segundos.
Sou uma gaivota a voar sobre o mar e sem ninho, a não ser uma pedra acima da linha do horizonte. Onde tento me esconder, mas sou vista de longe.
Sou vista de longe. Por muitos homens. Sempre me sinto nua sob olhares que me raspam na rua, sob lábios que cantam a lua. Me sinto nua sem a tua displicência de roupas e toalhas molhadas espalhadas pela casa que nunca viste.Me sinto nua sob a culpa de jamais ter sido tua, como foste meu. Assim, sou isso que se entende por fim. Esse último ponto final que sempre não acaba as coisas que vão além dos textos.




.por rodrigo, agora sozinho nesta casa, sentiremos a falta da julia.
.estou em transição por estas bandas, irei para outro lugar, aqui era a nossa casa, nunca será só a minha.
.por que, na minha vida, mudanças nunca aparecem sozinhas.