sexta-feira, fevereiro 24, 2006

ele

apenas um cara metido
achando que era cara metade





.por rodrigo, fui pra praia.

ai-quem?

só escrevo ficção
inclusive,
quando assino





.por rodrigo.

carnaval

- abram as portas do salão

pulam palhaços
enquanto bailam bailarinas e arlequins

serpentinas e confetes enfeitam o chão
após voarem soltas pelos lírios que soam sem fim
nas marchas de romance entoadas pelo beija-flor

é engraçado ver gatas e ratos dando as mãos
e piratas pedindo às princesas um suspiro trocado
e antes-anjos perderem auréolas na contra-mão

máscaras se encaram apaixonadas
e monstros só são mistérios para serem desvendados

mesmo quando o pranto é parte da festa
num disfarce secreto de quem venera
que talha na face uma gota azul
com tinta e espelhos num contorno caído
tudo é mentira, tudo é delírio,
tudo é mágico
e nada passa de uma simples fantasia

mas, no dia de cinzas,
santos são esquecidos
na canção do verão passado
e voltam os falsos sorrisos
do cartão-ponto e do carimbo








.por rodrigo.

espantalhas

sapatos de salto-alto
saltam soltos
sobre sandálias







.por rodrigo.

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

orvalho

dou as costas para o sol.
enquanto caminho para o oeste, ele sobe manso

é cedo

ver, aos poucos, pedaços de telhados, depois paredes, depois janelas
serem iluminados...
ouvir poucos carros despertando o tráfego
sentir o cheiro de sereno ainda frio que consome a poeira do ar


ela o deixou ir embora,

mais uma vez,
enquanto o expulsava de dentro de si
mais uma vez.




.por rodrigo, trabalhando desde às 7h17min.

pólvora

Atravessa o peito,
corta o coração
- divide a vida em dois -
e, enfim, não são mais lágrimas,
mas sangue

é apenas sangue






.por rodrigo.

rompe

Por que, no quarto,
A cama é fria, com o vento de quem sempre vai embora
Não fica

não há braços entrelaçados

E, enquanto o som é alto,
Os disparos são sofridos
E os gritos não mais trancados
Dentro de um amor sempre tão
(e tão só)
amante






.por rodrigo.

rotina

A sala meio vazia
A mesa posta
A taça esquecida e o vinho aberto descansam
A meia-luz à meia-altura é projetada contra uma parede de um claro bege
As almofadas lúgubres se espalham pelo chão, pelo sofá
a cortina cálida tropeça na cadeira caída

O cheiro do tempero ainda povoa o ar
Como se nada disso importasse
Quando o cansaço consome o corpo
que mal nota
o sorrso calado de quem cuida
dos pequenos detalhes






.por rodrigo.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

em cores

Toco tua foto
Com a ponta dos dedos
Receoso de sujar
Manchar algo que fosse

Deixo-a sobre a penteadeira
Sabendo que só voltarei quando o pó já estiver tomado conta

Parto
Por que não é mais tempo de inteiros






.por rodrigo.

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

de porcelana

A cadeira cansava minhas costas
Encosto, pés, braços de madeira...
A mesa de mogno
O café esquecido na pequena xícara
As pequenas pitadas de canela
Sobre a espuma pela metade

A garçonete passava rápida
Mas era tudo calmo em mim
Os outros conversavam rasgando fios e risadas
Eu só seguia a neblina de meus olhos

Riscava o pequeno guardanapo com a colher

Como quem desenha o rosto amargo na memória





.por rodrigo.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

pérola

Vestido de idéias de cores mil
Rolava na areia da praia
Criando castelos com duas ou três pegadas

Viu o céu, ouviu a nuvem
Sorriu quieto, mas não muito calado

Ouviu a sereia que chamava baixinho atrás das pedras
Perdeu o chinelo enquanto corria pra ela

Ganhou um beijo e um colar de corais

A partir daquele dia,
Sempre escrevia na areia
Pequenos poemas pra sua neblina princesa






.por rodrigo.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

na noite

a única coisa que se escutou do silêncio
foi a tentativa de sufocá-lo




.por rodrigo.

diário

As notícias que saem dos dedos de uns
Correm
Soltas
Saltam de olhos para a boca
E soam como sinos nos ouvidos de outras

Às vezes,
Sussurros roucos que rasgam um sorriso manso
E brilham olhos lancinantes

Às vezes,
Vagam batendo em paredes
E esmurram muros como corrente de vento
Que não cansa de assustar quem tem medo de tempestade

Às vezes, desapercebidas

Às vezes,
Sem sentido
Ou sentinela para proteger o farol






.por rodrigo.

terça-feira, fevereiro 07, 2006

terra

de humanos
só vejo húmus
muitos
mitos mortos
moídos
e escuto
apenas ruídos
rasgados, rompidos
no que era resto
e virou motivo




.por rodrigo.

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

espiral

Eu gosto de como
Os clichês se encaixam
Em momentos

E de como somos
Por instantes baixos
Um acaso repentino
Que se repete-repetindo
Como um pobre oculto pedido
Que pede,pede,pede!-nãopedindo





.por rodrigo.

leia escutando pj harvey, this mess we're in

The helicopters


O telefone toca quase em silêncio. Soa quase sem voz na manhã quieta, quando nada ou ninguém quer ameaçar desfazer a alvorada. Nem mesmo o vento apareceu, mas o pequeno resto da madrugada deixa o calor ameno. É primavera para as flores e outono para as folhas no chão.

- Can you hear them? The helicopters? I'm in New York.
- No need for words now.

Ela atende ao telefone meio sem jeito, meio sem querer; sem ao menos ouvi-lo tocar. Senta na cama calada e de lençóis desalinhados.

We sit in silence

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- You look me. In the eye directly.

O som insiste em suspirar baixo alguma canção sóbria de guitarras com pouca distorção e uma súbita poesia de voz feminina.

- You met me. I think it's Wednesday.
- The evening.

As promessas sempre rompem as conversas camufladas de sorrisos.

Night and day.

Alguém sempre se curva para o silêncio, enquanto outros caem como bêbados nas palavras.

- I dream of Making-love. To you now, baby
- Love-making

E os sonhos que se criam soam tão humanos, tão singelos.

- On-screen.

Sonhos que se calam na primeira esquina, receosos de serem cumpridos apenas como promessas. Somem ao depararem-se com o sol que acorda a todos, reluzindo como ouro no céu distante. Tolos que somos ao buscá-lo.

- Impossible dream.

E o que fica com os que ficam?

- And I have seen The sunrise. Over the river
- The freeway.

E os porquês que ecoam e reverberam nas paredes geladas sempre ficam calados de respostas. Sem sequer uma ironia que fosse.

Reminding

====

- What were you wanting?
- I just want to say

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E, de tudo, sempre ficam os pedidos lançados no chão coberto de poeira; e os verbos rasgados pelos adjetivos que estão sempre ao alcance do punho.

- Don't ever change now, baby

Fora os restos que são largados num canto. Qualquer canto de qualquer quarto. Para fingir esquecimento, fingir que foram embora. Um fingir humano.

- And thank you.

Uma caixa de bilhetes, fotografias, do rótulo da champagne, de esquecimentos. Um armário vazio; de cabides, agora, abandonados.

- I don't think we will meet again.

E se o som continua a soprar os lábios com mentiras na voz tão sua;

And you must leave now,

e se os olhos, quando miramos diretamente o sol, se confundem branqueando tudo que se vê;

before the sunrise.

então, o que fazer com a caixa cheia de perguntas?

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Assim, o som das nuvens cortadas por helicópteros se fez mais forte um pouco antes do silêncio que nem mesmo o vento ousou desfazer.

Above skyscrapers.

E tudo agora eram frases entrecortadas por um interurbano que

- The sin and

Cabiam apenas em um bolso cavo de paletó

- This mess we're in and

Agora, apenas bobagens superficiais os tocavam.

- The city sun sets over me









.por rodrigo, um texto velho para velhos sentimentos-velhos.

.a música é foda!!!!!!.
.eu amo a pj.


sábado, fevereiro 04, 2006

ficou lindo

a paula me presenteou
com as fotos do paulo
e os poemas do ego

http://homepage.mac.com/anabrasilusa/Personal2.html


só posso ser grato
e ter o coração aberto pra eles
sempre.

brigado!

ali, no fogo

Vejo o fogo meio transparente
Aceso
Ascender aos céus

Seu sopro
Sussurro
Vira fumaça
E por poucos é ouvido

Esqueço o livro na mão
Enquanto me cego do mundo
Nada resta além do fogo

Os pequenos ruídos da madeira cedendo
O estampido seco e caótico
Que quebra o negro da noite
E o negro da terra
Que já se confundem

Posso prever o passado
Apenas olhando o próximo desviar-se do vento

Lanço o livro
Sem vida, reacende nas chamas

Sem sono
Assumo nas mãos a tocha por empréstimo

A trago comigo para dentro do saco de dormir
Enfim, durmo meus sonhos





.por rodrigo.

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

de frente pra trás

Um pedaço de tempo
passou pelos seus olhos.

Sob a ilha acinzentada
soaram momentos-muitos
reunidos num rosto-único.

Na verdade,
viu tudo.
Virtudes, defeitos...
Toda a vida numa longa linhadotempo

Viu a faca como espelho

Os monstros saíram do escuro.
Mas pela última vez





.por rodrigo, novecadeiras e vinteeoito créditos.