quarta-feira, abril 27, 2005

Dr. Jekyll and Mr. Hyde

Essa sensação de que ninguém – a exceção da Fê – mais lia essas linhas publicadas aqui de forma humilde (ou humilhante?!?!?!?), me dava mais liberdade.
Um alívio ao instinto natural da eterna crítica ao processo autoral da escrita.
Mas tenho lido nomes diferentes nos comentários e tenho ouvido perguntas sobre textos e recebido recados pelo famigerado orkut e, algumas vezes, até um e-mail novo na caixa de entrada.
Os ombros tensos recebem com pesar o que o ego quer mais e mais.
É difícil expressar o que um elogio faz com o corpo de um cara tímido que não acredita que os seus pequenos rabiscos sustentem as palavras amigas.
E é mais difícil expressar o silêncio e a falta de crítica quando se sabe da imaturidade gravada na tela ou no papel.
Mas é fácil receber o soco no estômago quando se sabe que o trono não nos cabe e o texto é apenas um disfarce de letras mal tratadas e esquecidas em cantos e esquinas; estúpido que sou ao tentar guiá-las para longe do simples uso disforme da língua cotidiana que conta causos sem donos e não conta contos sem ousadia ou entrega.
Mas se é difícil assim achar o tom e contornar os atalhos errados das palavras, tento, ingênuo que sou, sempre que posso, ouvir o som das histórias que se contorcem aqui dentro e saem da alma para fora do peito, para os ombros, para os braços, se acabando no encontro de desespero entre os dedos e as teclas.
Mas, se é difícil sustentar um talento inventado pelo sorteio aleatório promovido pelo ego, se é mais difícil ainda sustentar o susto de ser alvo dos olhos de estranhos que te dissecam sem nunca ter cruzado contigo na rua, mais difícil, certamente, é ouvir da boca tua que queres que meus lábios reproduzam as histórias que nem em sonhos sou capaz de contar para alguém.



.por rodrigo.