terça-feira, março 01, 2005

dos finais infelizes

esses dias um amigo meu me falava de como ele sempre sonhara em ter um cachorro. um beagle, macho, que ele criaria desde filhote e seria um cão treinado, mas não um cão de guarda ou essas bobagens, ele saberia dar a patinha, rolar, fingir de morto, essas coisas importantes de verdade. não lembro qual ia ser o nome, mas ele já tinha tudo planejado. ia ser um belo cachorro. aí ele ganhou um gato. da namorada. desnecessário dizer que foi o fim o mundo. ele não podia mais ter um cão nem se livrar do felino, já que era presente da mulher amada. quando perguntei que raça era e que nome tinha, a resposta veio seca: é um gato, que mais tu precisa saber? virou um rapaz amargurado, o meu amigo.

mas tudo isso me lembrou de quando eu queria uma laranjeira. sei lá quantos anos eu tinha, só lembro que era criança. não tenho noção de tempo, sabe como é. mas aí nessas de querer a laranjeira - porque eu queria laranjas a qualquer momento, nunca gostei de suco de caixinha - bolei toda uma estratégia para consegui-la. com meu pai, claro. e aí colocava bilhetes na carteira dele, bilhetes na geladeira "porque não compramos uma laranjeira" "que tal um pé de laranja" sempre encaixava o assunto laranjas em qualquer conversa. aí um dia, por cansaço ou generosidade, lá fomos nós comprar uma laranjeira. olhamos aqui, olhamos ali, mil árvores que para mim eram "plantas" (nesse instante eu devia ter desconfiado que sempre seria ruim em biologia). escolhemos a laranjeira e meu pai sugeriu levar também um limoeiro. por mim, tanto fazia, desde que as laranjas estivessem no trato. levamos um limoeiro. plantamos uma ao lado da outra no pátio e me revoltei com a natureza por ter que esperar uns três anos até ver alguma fruta nascendo (maldita biologia). mas os anos passaram, as árvores cresceram, apareceram umas frutinhas pequenas, meio secas, e aí me disseram que no ano seguinte a gente poderia colher numa boa. lindo. só que eis que o terrível limoeiro começa a crescer assustadoramente, pra cima, pros lados, se espalha cobrindo a laranjeira e lá surgem limões por todos os lados, um absurdo de limões, enquanto a laranjeirinha se encolhe na sombra e faz brotar uns tímidos frutinhos que não servem pra nada. e assim é desde então, todo ano se acumulam sacolas e sacolas de limão aqui em casa, e acho que eu nunca comi uma mísera laranja do meu quintal. todos aqueles esforços por nada. e o pior: eu detesto limão.

.julia.