sexta-feira, fevereiro 18, 2005

beto era o nome do marido dela

ontem na rua vi a tia simone. a tia si que me deu aula na primeira e segunda série no (àquela época) tradicional colégio bom conselho, quando eu ainda nem imaginava que faria faculdade na mesma rua, só que alguns metros abaixo. éramos muito ligados, minha turma e a tia si. tanto que a direção nunca deixava o mesmo professor com a mesma turma por dois anos seguidos, para os alunos não ficarem se apegando, mas a tia si pediu, a gente pediu e assim foi. ela casou no primeiro ano que nos deu aula, e teve uma filha no segundo: a juliana. e a turma toda foi levada de ônibus pro hospital pra conhecer a filhinha da tia si. ficamos olhando a juliana toda minúscula no berçário. e olha que nós já éramos bem pequenos, mas a ju era uma bolinha menor ainda toda enrugada com uma boca que parecia um coraçãozinho. vermelho e enrugado. um morango, talvez. e voltando ao que eu dizia, vi a tia si ontem na rua. eu estava no ônibus e ela atravessando a rua. então num momento de alegria "puxa, olha só a tia si!" eu acompanho com os olhos a antiga professora, correndo na sinaleira amarela pra chegar na calçada e acender um cigarro. um cigarro? ela fuma? ela fuma! meu deus, será que ela fumava já naquela época? não, não devia, ela teve filha e tudo mais, ela não faria isso. claro que não, ela era a pessoa mais meiga do universo e nos ensinou a ler, como é que a pessoa que te ensina a ler vai ser um fumante? é óbvio que não. então ela começou a fumar depois? que tipo de estresse leva alguém de mais de trinta anos a começar a fumar? talvez ela tenha se separado do marido. talvez ela tenha fumado escondido a vida toda. não sei. fato é que me decepcionei com a tia si. porque tudo bem os teus professores do segundo grau fumarem. tudo bem os teus colegas fumarem. tudo bem se tu fumar. mas a tua professora da primeira série é território sagrado. não fuma, não bebe, não joga e os filhos são sempre do espírito santo.

.por julia.