terça-feira, março 22, 2005

universidade pública e gratuita

para pedir uma vaga na cadeira de introdução à sociologoia eu tinha que ir no vale. quarta-feira, no último dia de correção de matrícula eu pego o t8 e atravesso a cidade, rezando para que o departamento de sociologia esteja aberto (passo arriscado um, sempre que a gente vai no vale na esperança que dê certo, a viajem mostra-se inútil). chego lá e, de fato, o departamento só abria a uma da tarde, eu tenho que sair de lá às dez da manhã no máximo. falo com o cara da recepção e ele me diz que na sala 109 uma mulher de nome-que-não-entendi vai resolver o meu problema (passo arriscado dois: se alguém garante que vai resolver teu problema, não há dúvidas, estás em apuros). chegando na sala 109 a mulher de nome-que-não-entendi-era-algo-como-ilka pergunta de cara
- que cadeira tu quer?
- introdução à sociologia A.
ela procura numa folha e me diz
- a aula é só às dezoito e trinta no prédio da psicologia.
- oi?
- tu tá no horário errado, é só as dezoito e trinta.
sim, gênio, eu sei. explico:
- eu quero cursar a cadeira e não descobrir a sala.
- ah, isso eu não sei, acho.... que....tem que pedir correção de matrícula. é.
sim, é o que eu estou tentando fazer. continuo:
- eu tenho aqui essa folhinha com meus dados e os dados da disciplina e preciso que o departamento de sociologia carimbe e assine.
(passo arriscado três, se tu tem que explicar para alguém que deveria saber como se faz as coisas, 100% de chance que essa pessoa não vai entender mesmo). ela fica alguns segundos me olhando, faz alguns ruídos com a garganta.
- mas o departamento de sociologia está fechado.
eu suspiro (passo arriscado quatro, se alguém só te diz o que tu já sabia, é perda de tempo). eu pergunto se ninguém do departamento está pelo prédio ou pelo campus. é mania de fabicano, na fabico a gente tem mais chance de encontrar alguém no térreo que na sua sala. a mulher de nome-que-não-entendi diz:
- não, mas pode deixar o pedido comigo que eu entrego.
me surpreendo com a prestatividade e digo
- ok, mas o problema é que eu não posso vir buscar, pode ser outra pessoa?
(passo arriscado cinco, um pedido simples, se estiver meio milímetro fora do protocolo, vai arruinar tudo).
- ihhhhh, tu vai ter que deixar uma autorização com o nome de quem vem buscar.
- hmn, entendo. - ignoro a recomendação, ah, faça-me o favor.
entrego o papel e agradeço. uma professora entra na sala e barra a passagem da porta. eu tenho que esperar ela sair para poder passar e no meio tempo consigo flagrar a mulher de nome-que-não-entendi largar minha folha em cima da mesa. entendi porque ela tinha se oferecido para entregar para o departamento. saio dali e encontro, no bar do antônio, o namorado, que matou aula pra me encontrar. explico a situação e peço que ele busque a minha autorização já que ele tem aula no vale de tarde. depois ele me encontraria na fabico de tardezinha.
então, à tarde, eu estava no jornal, moça trabalhadora que hoje sou, e percebo que na melhor das hipóteses eu vou chegar na fabico minutos antes das sete (passo arriscado seis, o prazo final é sete horas). corro até o ônibus, o motorista do t6 me espera subir, desço no planetário e três maconheiros fazem a paisagem da travessia planetário-escola.técninca-bar-fabico. chego em cima da hora e o namorado já me espera, com a folha na mão, carimbada e assinada. subimos ao quinto andar e entrego o papel na mão de alguém da secretaria.
- é só isso?
- só isso, agora eu passo pra enoí e ela dá uma olhada
(passo arriscado sete, se a enoí vai dar uma olhada, podes prever complicações acadêmicas em breve futuro). aí quinta eu entro no portal do aluno e abro meu comprovante de matrícula. lá está: introdução à sociologia A. olho de novo. confiro a turma, o horário, o local. constato incrédula: deu certo. deu certo? deu certo.

.julia. introduzida na sociologia.A.