sexta-feira, março 18, 2005

Céu de Baunilha

Eu sonhei que estávamos sentados, lado-a-lado, sozinhos, vendo um riso de criança brincando na beira do lago.
Eu sonhei que o dia estava terminando, mas nada tinha uma cara de fim. Tudo seguia seu rumo como se as coisas fossem assim, coloridos pulsantes e que entram pelas narinas e estufam o estômago. Como se o ar fosse tão denso, que chegasse a ser veneno pro corpo fraco e humano demais para as fantasias.
Poderia matar de desgosto.
Sinto o peso do sonho.
Sinto as penas das pombas quase mortas de fome deslizando pelo vento sem imaginar aonde vão finalmente tocar o chão.
Sinto tua mão zombando da minha.
Teu riso rindo de mim.
Sinto, sozinho, teus lábios passando perto, mas sem tocar os meus.
As nuvens perdem as cores, os risos perdem os sabores.
Sem saída, grito por um resquício de mentira que possa vir me salvar.
Mas a voz não sai. Esse nó prende o som.
Preso em um sonho que já não tem você ou alguém que não seja qualquer.
Pessoas passam zombando. Parece que estou nu, mesmo vestido. Olho assustdo. Calça, camisa e cinto.
A areia levanta e me cega por instantes.
Me empurram para todos os lados.
Quando a areia pára de incomodar e consigo abrir os olhos.
Olha para a parede do meu quarto e o que vejo é o gosto amargo de mais uma noite de verdade.


Mas foi um sonho.
E o que fica nos braços é um vazio de um travesseiro; e, no rosto, o suor do pesadelo.



.por rodrigo.