MANIFESTO
A chinelagem era o momento festivo dos alunos da fabico. Alguns diziam happy hour, festinha. Tanto faz. A origem ninguém sabe - quando chegamos já estava ai – mas sabemos que era tradicional. Certas coisas já nascem tradicionais. Assim que saiam da aula o povo se reunia ali no dacom e no saguão pra dar uma descontraída, tomar um breja barata, bater um papo, dar uma chacoalhada e coisas do gênero. Tudo acontecia ali pelo térreo, sem maiores problemas. O diretório juntava uns pilas com a venda do trago, não alterava muito o cotidiano do prédio já que terminava cedo e o pessoal se divertia: bom pra todo mundo. Agora não tem mais: a direção não permite. Porque? Reforma do prédio. Mas a chinelagem não era ali no térreo, onde, de reforma, só temos portas laranjas? Isso mesmo. NÃO ENTENDEU NADA? NEM NÓS.
E assim fez-se a chinelagem marginal. Fruto da vontade de várias pessoas no reestabelecimento do evento, a idéia do protesto surgiu repentinamente, sem comando, sem uma organização formal, sem um cabeça. Surgiu e tomou corpo. A idéia era fazer um protesto nos moldes da tal festinha, mostrando que dá pra reunir o povo por ali sem causar problemas pra ninguém. O plano era ficar ali pela frente do prédio, batendo papo e curtindo um som, que obviamente seria improvisado na hora. REUNIMOS ALGO EM TORNO DE 100 ALUNOS. O som atrapalhou uma aula e foi imediatamente cessado, com o devido pedido de desculpas. Sem alternativas os alunos acharam que poderiam ocupar o espaço que lhes é destinado na faculdade, o diretório, pra se reunir, dançar e seguir com o protesto-festivo. ESTAVAM ENGANADOS. A segurança tentou, inexplicavelmente, barrar o nosso acesso ao prédio às nove horas da noite. Argumentamos que não estávamos fazendo nada de mais, já que éramos alunos e o horário era de funcionamento da faculdade. Não houve jeito: ordens superiores. Seguramos a porta com o pé e entramos pacificamente. Gritamos, por alguns instantes, algumas palavras de ordem, como manda o manual do bom protesto, mas nada que se compare as torturantes sessões de impressão da gráfica. Quem viveu, sabe. Sonzinho ligado, a moçada pôs-se a bailar. Enquanto o pessoal curtia, uma comissão de alunos pediu pra falar com o diretor, que "não foi localizado". Uma pena. Resolvemos sair já que O CONTATO COM O DIRETOR FOI FRUSTADO. Os alunos que mais estavam afim de ver a volta do famoso regabofe fabicano e se disponibilizaram a estabelecer um diálogo com direção assinaram uma lista de presença do protesto e foram embora faceiros.
E o diálogo veio na forma de uma comissão que vai JULGAR os alunos que cometeram INFRAÇÕES, devidamente sacramentadas por uma certidão de ocorrência redigida pela segurança da faculdade sem a presença de alunos. Resumindo: o conselho da unidade usou como base a declaração de apenas uma das partes para decidir abrir um processo administrativo CONTRA OS ALUNOS que, pacificamente, protestavam contra uma atitude do diretor da fabico. Grande diálogo! Pois ouçam bem cambada; não se pode mais reclamar na fabico! E quem não gostar vai direto pro SOE!
A universidade é um local para fomentar o crescimento intelectual e cultural, definida pelo Artigo 2º do Estatuto da Instituição como "(...) expressão da sociedade democrática e pluricultural, inspirada nos ideais de liberdade, de respeito à diferença e de solidariedade (...)". Nós, alunos que apoiamos a realização das chinelagens na nossa ainda querida fabico, acreditamos que algumas idéias presentes nesse artigo do nosso estatuto não estão sendo devidamente respeitadas com o estabelecimento dessa comissão de forma tão abrupta e intransigente. Não temos a intenção de afrontar ou desrespeitar a direção ou os membros do conselho da unidade. Queremos, sim, o restabelecimento do diálogo franco, direto e amistoso com o diretório estudantil e com os alunos desta faculdade.
DCE, DACOM E ALUNOS
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