quarta-feira, janeiro 05, 2005

metamorfoseando

começou como um processo lento. eu sentia como se estivesse coberta de areia. me esfregava e sentia os grãos caindo e era estranho porque não era praia. quando os grãos ficaram maiores eu vi que eram brancos e eram parte de mim. daí em diante não vi o tempo passar. tinha medo de me mexer então fiquei parada vendo minha pele cair em grãos aos meus pés. foi só quando minha língua se desmanchou que eu soube: eu estava me transformando em sal. continuei imóvel, algumas pessoas passaram por mim mas não pareciam perceber o fantástico de uma pessoa virar sal. o fantástico de mim. eu nunca tinha conhecido ninguém que tivesse virado sal. era, sem dúvida, extraordinário. e quão extraordinário! quando eu virei apenas um montinho branco de sal e estava difícil pensar que tudo ficou úmido. e de úmido tudo passou pra molhado. e de molhado tudo passou pra triste. e aí, não sei se me choraram ou se me chorei.

.por julia, que não tem talento para vinganças.